domingo, 2 de janeiro de 2011

Brasinha do espaço

Depois de um mês de preparação o cabaré volta às atividades, abrindo o ano com uma série de showzinhos e performances musicais, protagonizados por Margot P., sob a direção de Leonce Büchner, eu próprio. 
Quanto aos cenários coube ao sr. Huppert a tarefa de montar intalações colossais, com efeitos impressionantes.
Hoje, enfim, estará acontecendo a primeira apresentação, mas, na realidade, o povo lá fora já teve uma prévia do espetáculo, antes do público que aguarda ansioso aqui dentro. É que Margot já veio produzida e, ao descer do seu carro, desfilou pela vizinhança, indo à farmácia, ao supermercado e à padaria da esquina, com o indisfarçável intuito de chamar a atenção. Toda vestida de prateado, com minissaia, colant e botas sete oitavos, o visual tem ainda o complemento de uma peruca loura bem volumosa, e maquiagem característica da década de 80. O impacto não podia ter sido maior: logo a nossa estrela estava sendo seguida por uma turma de crianças e sendo chamada de Lady Gaga por onde passava. Margot odiou a comparação.
Enquanto isso, a casa já está lotada e há uma evidente curiosidade em torno da grande estação espacial construida pelo sr. Huppert, toda de sucata, recoberta com tinta spray metálica.
Até eu próprio que assisti a todos os ensaios estou contando os minutos para ver a sexy dublagem que a maravilhosa Margot P. fará ao som de "Clouds across the moon", hit de 1985, produzido e gravado pelo inglês Richard Anthony Hewson, sob a assinatura de Rah Band. 
Vejamos o video original.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Martina bem de perto

Andei ausente do meu cabaré enquanto conferia outros lugares, outras performances, outras pessoas...Nesse meio tempo fui ao magnífico show da banda inglesa Massive Attack, seis anos depois de tê-la visto se apresentar aqui em São Paulo.
Não me aprofundarei nesse fato ainda recente, pois dele muito já se falou. Mas posso garantir que continuo inebriado pela experiência, algo que pude dividir com os meus então acompanhates Sr. Huppert, Sr. Ishikawa, Sevérine e  Sandoval Velasquez, um dançarino boliviano nunca citado aqui antes.
A única coisa que lamentei naquela noite foi ter perdido a apresentação que precedeu a atração principal, com a cantora Martina Topley-Bird brindando o público com músicas de seu repertório próprio, antes de reaparecer emprestando sua voz a diversas canções do Massive Attack, uma ou outra gavada por ela mesma no album "Heligoland", o mais recente do grupo.
Mas ontem pude reparar o prejuízo indo ao Comitê Club, na velha e boa rua Augusta, rever Martina numa performance bem intimista, sobre um palco baixo que ela dividia apenas com o músico multi instrumentista brasileiro Curumin e também com CéU em rápida participação.
Curumin consegue dar conta de tantos instrumentos de percussão, tocando todos eles com um domínio tão grande, que acabei concluindo se tratar de um fenômeno, uma concentração de uma banda inteira em um homem só. Aplaudi com muita vontade, palmas estaladas, daquelas de arder as mãos.
Martina também domina uma boa diversidade de instrumentos, entre eles guitarra, teclado, percussão e um gracioso ukulele. Mas a força da sua presença já bastaria para garantir o interesse da plateia. Só vendo e ouvindo. A beleza, o charme, a simpatia, o talento, a voz sensual, o jeito de interpretar...Ah, Martina, volte logo pois já estou com saudades.
Neste momento ela se faz presente aqui no cabaré através do album  "Maxinquaye", do cantor Tricky, com quem canta em duo. Tenho esse CD há mais de 10 anos e agora volto a ouví-lo como se fosse uma novidade recém descoberta.  Espero continuar achando isso por mais uma década pelo menos. Para selar esse relato vamos assistir ao clipe da música "Carnies", a mesma que ela cantou para finalizar o bis e se despedir.

sábado, 30 de outubro de 2010

Meu marido de batom

Hoje, na hora do almoço, recebi a divertida visita de Charlotte B. que passou por aqui para tomar uma cerveja e ouvir música.Entre um assunto e outro, perguntei se ela sabia o significado atribuído ao termo “crossdresser”. Ela disse não saber e ficou inconformada com isso. Charlotte sempre acha injusto ser a última ou mesmo a segunda pessoa a descobrir alguma coisa nesse mundo.
Quando comecei a reunir palavras para explicar o que era, ela preferiu arriscar: “Crossdresser é uma ‘coisa’ ou é ‘alguém’?”. Continuei dizendo se tratar do estilo de se vestir que alguns...Fui interrompido novamente: “Eu sou crossdresser?”. “Não, você não é”, foi a resposta.
Logo achei melhor acessar um exemplo ilustrativo. Digitei no Youtube as palavras “Laerte, crossdresser” e apareceram alguns vídeos com o famoso cartunista brasileiro, autor de tantos personagens memoráveis como Piratas do Tietê e Overman.
Contei que ele passou a se vestir com roupas femininas no seu dia a dia, mas sem ter se tornado uma drag queen. Laerte continua a ser Laerte, o que mudou foi o seu guarda-roupa.
Charlotte achou isso o máximo e até identificou o corte de cabelo dele (chanel com franja de lado) com o dela.
Segui contando que já havia lido informações sobre “crossdresser” aos sete anos e meio de idade. Ela achou isso um absurdo.
Minha mãe que era professora e dava aula para uma turma de crianças dentro de nossa própria casa, mantinha escondido, “longe” do alcance dos filhos pequenos, o famoso livro “Tudo o que você sempre quis saber sobre sexo, mas tinha medo de perguntar”, escrito por David Reuben. O exemplar foi um presente que ela ganhou de sua irmã mais nova, minha tia solteira e moderninha. Isso em 1973. Vamos amarrar o assunto: eu lia esse livro, escondido, durante o tempo em que minha mãe lecionava. Sim, eu já sabia ler muito bem e interpretar as informações. Na realidade, eu nem sei quando aprendi a ler. Para mim, eu sempre soube.
Eu lia um pouquinho a cada dia. Ao perceber que a aula estava no auge, eu escapava para a minha leitura secreta. Depois, livro escondido, voltava para a sala (eu também era aluno, não oficial, mas era).
Enquanto as outras crianças aprendiam a soletrar monossílabas, dissílabas e trissílabas, minha cabecinha estava cheia de palavras novas: orgasmo, frigidez, ejaculação, lesbianismo, travesti...
Martin era o nome fictício de um travesti marido e pai de família a quem o livro dedicava um capítulo. Nunca esqueci o nome dele. Martin era o que hoje poderia ser classificado como crossdresser. Charlotte ficou impressionada, mas também encantada. Ela disse que gostaria de ter um namorado que vestisse as roupas dela na intimidade.
Lembrei de um filme, “Armadiha do destino” (1966), de Roman Polanski. Nele um casal interpretado por Françoise Dorléac (irmã de Catherine Deneuve) e Lionel Stander (o mordomo da telesérie “Casal 20”) se divertia, ele se travestindo e ela rindo muito, quando assaltantes nada amáveis chegavam atrapalhando a brincadeira. Esse será o filme de hoje à noite no telão do cabaré. Charlotte, interessadíssima, prometeu voltar para assistir.
Agora vamos ver e ouvir "Do you really want to hurt me" com Boy George, o mais belo crossdresser de que me lembro, nos tempos do Culture Club.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

A noite da bela

Hoje é o aniversário de Catherine Deneuve, musa constante nas entrelinhas de alguns relatos aqui publicados. Ela está completando 67 anos e para mim as suas feições continuam servindo para medir a beleza de qualquer ser que se coloque ao seu lado. Nos últimos dias esse assunto foi tema de algumas discussões entre os freqüentadores que assistiram aqui no cabaré às exibições de “A bela da tarde”, “Fome de viver” e “A sereia do Mississipi”, numa homenagem que hoje terá encerramento em grande estilo. 
A festa anunciada na postagem anterior terá algumas performances ensaiadas na calada da noite passada. Entre as atrações haverá uma encenação em que Margot P. - que já foi lanterninha de Cineclube e assistiu a todos os filmes do mundo - dançará num cenário repleto de guarda-chuvas coloridos, contando ainda com uma participação de Jonas, o barman desse estabelecimento, que surgirá no mini palco vestindo uma fantasia de asno confeccionada em pelúcia marrom.
Séverine, por sua vez, avisou que usará numa réplica do vestido “nude”, criado originalmente por Yves Saint-Laurent, e divulgado por Deneuve na década de 60.
E, enfim, o Sr. Huppert sentará ao piano cocktail para apresentar sua versão ultra cool de “Sofisticated lady”, clássico de Duke Ellington.
Logo Colin, Alise e Chloé estarão chegando, preciso me adiantar para recebê-los.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Comemoração

Depois de amanhã, 22 de outubro, haverá uma grande festa aqui no cabaré, e para isso os preparativos já tiveram início.
Hoje fui à principal rua de comércio de quinquilharias dessa cidade para comprar 27 guarda-chuvas coloridos a pedido de Margot P..
Ela usará esses acessórios em uma performance, que de tão linda o povo vai querer bis.